quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Espelho do Velho Chico não retrata a vida não!

Já beirando os 80, pois, nasci em 09 de outubro de 1935, nas entrelinhas dessa crônica simples, deixo o registrado que assisti hoje na TV uma notícia que me causou profundo desgosto, mas, que infelizmente, já me anunciava o desfecho há mais de cinquenta anos. A nascente do Rio São Francisco completamente seca! Que triste informação, que dolorosa constatação! 

Nas minhas andanças por este Brasil imenso, incontáveis vezes, deparei-me com o trânsito indevido e incessante de caminhões carvoeiros abastecendo os fornos das indústrias.  Já causava-me indignação tal ocorrência de desrespeito e descaso com a natureza. Preocupava-me sobretudo, que nesse país do descaso, as matas não seriam replantadas. De fato, gerações e gerações de brasileiros nasceram e cresceram sem terem visto repostas as árvores arrancadas para alimentar caldeiras de um capitalismo selvagem destruindo tudo à sua frente tendo no discurso do progresso a implantação de uma cultura consumista e irresponsável. 

No Vale do Aço, em Volta Redonda e tantos parques industriais Brasil afora consumiram-se florestas inteiras, assorearam e mataram rios, expulsaram os ribeirinhos para favelizar a cidade grande. E tudo ocorrendo às expensas do governo que recolhe os impostos e pouco se importa com as consequências. Torno público versos de minha autoria cujo título "Espelho do velho Chico", em forma de baião, foi escrita em decorrência desse protesto vendo os caminhões levando para as indústrias o carvão das matas ciliares. Esse crime contra a natureza, teve agora sua consequência trágica. Para tristeza nossa, presenciamos os estertores de uma potência hídrica reduzida à zero pela ganância e pelo desgoverno. Sim, realmente o espelho do velho Chico não retrata a vida não, o que já nos custa muito caro. E pior ainda ficará para as novas gerações, lamentavelmente. Na minha angústia, a cinquenta anos já cantava assim:

O Rio São Francisco
Encheu de verdade
Inundou nossas vilas, arraiais e cidades
Gaiola não desceu
Gaiola não subiu

Foi verdade 'Sêo' moço 
Esses 'zóios' viu (2x)

Olha o velho Chicão
É costela só
Machado e judiação
Fizeram caminhos de pó

Não deixe fazer machado
Jogue fora esse facão
Pra não ver caboclo triste
Nas barrancas do Chicão

Pra não ver caboclo triste
Nas barrancas do Chicão
Jogue fora esse machado
Não deixe fazer facão

Os matos de cabeceira
Cortaram sem compaixão
Matando peixe no rio
Acabando a criação
Cuidem da ecologia 
Enquanto  é tempo
Meu irmão

É o Espinhaço dobrado
Na força da destruição
Por isso de peito aberto
Eu grito contra o deserto
Que envergonha essa nação

Ê,ê, ê, ê meu irmão 
Espelho do velho Chico
Não retrata e vida não (repete o verso)

Helio Schiavo

Ponte Nova, há mais de cinquenta anos

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