sábado, 5 de julho de 2008

À Gentil Afrodite

Escrevendo para você um poema
Estou brincando de ser feliz;
Procuro adoçar meus versos
Na solidão das taperas,
Com as flores das primaveras,
Com as luzes dos pirilampos
Que brilham mais que os relâmpagos
Que faz o albor da minha terra vasta,
E o perfume da jurema
Como estrela em luz,
Como fizera Madalena,
Beijando aos pés de Jesus...
Com sua beleza suprema
Que a mão do tempo não gasta.
Você fez do relâmpago a faca da poesia,
Cortando a mão do poeta,
Que vai aos poucos me ferindo
O imo do meu coração como menino traquinas
Seus olhos são pintados
Com os pincéis dos arcanjos pintores,
E são verdoengos e verdejantes
Como as cochilhas do Rio Grande do Sul.
Seu andar, dá a impressão das caminheiras
De quem vai para o céu.
Quando você olha para cima
É como se estivese olhando o telhado do infinito.
Sua fala é a linguagem das Santas,
porque é gerada das nuvens lilases.
Eu sonho na fantasia,
E sofro na realidade
Mas este é o meu fadário...
Só a vejo no pipilar dos pássaros
Nos vales verdejantes
Donde a sombra da noite dorme;
Seu corpo tem forma de harpa,
E semblante de criança.
Até quando passa, o vento na alameda
Canta como um bandolim cigano.
Seu porte tem a imponência da Garça
À beira de um córrego límpido e transparente.
Você é a Flor de Liz,
Mas não sabe que cheira,
Você é o céu, mas
Não sabe que chove,
É o sol, mas não sabe que é ardente.
Mas, amiga: a vida é uma quimera fugaz,
Tudo passa correndo...
Sua imagem é de Santa,
Embora infelizmente seja pecadora...
É infinitamente loiçã airosa,
Como uma boneca de louça chinesa.
Esbanja beleza e simpatia;
Com os anos, a vida brota a toda ligeireza.
Tudo passa quando você passa
Pela manhã naquela alameda,
Passa de branco como as névoas da montanha...
Você sem querer me ilumina,
Porque você é uma página de poesia de Castro Alves.
Você não anda, dança, não fala, canta!
É como um vôo da "atalanta" das verdejantes matas,
Porém, vivo no silêncio de um Pastor,
Como vivera Apolo com seu rebanho de ovelhas,
Nos floridos vales do oriente.
Sua fala mimosa é a linguagem dos céus.
Galopo no lombo da caneta para fazer estes desarrumados versos
Que dói em mim
Minha caneta tornar-se-á
Um pincel de desenhar versos e prosas.
Sua beleza é estonteante.
Seus olhos têm o brilho de dois astros
Quando brilham no zênite.
Quando você passa pelos adros das Igrejas.
Ouço o bimbalhar dos sinos em seu louvor.
Seu nome é um canto de poesia.
Estou certo, de que as minhas lágrimas
Lavam as minhas dores.
Você é um presente que "Aláh" ofertou-me como graça.
Sou um humilde escritor e poeta,
Mas, vivo ali sentado naquele banquinho
Como se fosse um parnaso dos Deuses
Esperando Afrodite passar,
Como se estivesse no batente do tempo.
Você não tem culpa de fazer brilhar os caminhos onde passas
Você sem saber empretou-me sua beleza e sua ternura
Para os meus versos
E eu a mim inspirar em seu porte elegante.
Com isso não estou com segundas intenções,
Apenas sou um pobre poeta
Que trota atrás de uma musa dos deuses da Grécia antiga.
Seu sorriso brilha através dos seus recortados lábios,
Como o reverberar da estrela Aldebarã.
Disse Sócrates: a perfeição de Deus é uma mulher bonita.
E qualquer poeta ao vê-la fica em estado de transe,
Louco para descrevê-la, ou melhor, copiá-la.
Você quando passa,
É como uma caminheira das nuvens
Que o vento sopra nos céus.
Tenho sofrido demais!...
Tenho a alma ferida,
Quero gozar mais não posso
Este restinho de vida,
Desde que pulei do berço
Minhas lágrimas formam um terço
Só dei passada perdida.

Branca flor de Jasmim,
São rubis preciosos
Dentes alvos e primorosos
Como pedaços de marfim.
Fez-me um amor tão profundo...
Que não cabe dentro de mim.
Você é das ilhas afortunadas,
Que só nos traz beleza,
Com a sua delicadeza
Nos traz muita paz.
Seus olhos são pequenos
Como conchas retalhadas
São duas gotas de veneno
Seus sentimentos são profundos
De lábios bem talhados.

Conheço-lhe há meses!...
E seus encantos sem fim,
Hoje, sou tão você,
Que às vezes,
Sinto saudade de mim.

Adeus lírios dos montes
Adeus versos que são meus,
Adeus crepúsculos dos horizontes,
Não chora águas das fontes,
Seus prantos, são lágrimas de Deus.

A primavera está chegando
Com as flores e rosas multicores
Em festas matizadas
São presentes de todos os amores.

Debruçado ao lado do deserto
Chora o Jordão aos pés de Jesus
E eu com uma candeia
Procurando-lhe naquela alameda
Todo entardecer.

Porque Afrodite:
Sou forjado no calor do puro verso,
E na inspiração de sua beleza plural,
Não faças! Mau juízo meu,
Sou apenas um poeta
Apaixonado pelas belezas de Deus.

Você é uma estátua
Que os anjos pintaram
Mas que acabou se transformando
Em carne loura, como as espigas, os raios do Sol,
E as moedas antigas,
Perdoa-me copiá-la,
Ou tentar desenhá-la, neste poemeto.
Li seu nome nas partituras do céu
Que Deus compôs em notas musicais
Dentro de mim como Deus iluminou
A poetisa "Safo".
Ao pensar em você,
Recordo-me do lirismo do poeta
Petrarca, que até hoje
Os lábios do tempo murmuram
Banhando de lágrimas
Minha face.
E porque esqueceria Mallarmé,
Que também lapidou como ourives
Os versos juntamente com Valery,
Ambos lapidaram nos contos do Belo Narciso
Que fizeram com sapiência
O rio parar.

Nem os romances de Cervantes,
Nem a paciência de Jó,
Riqueza de todos os Reis!...
Nobreza de Faraó,
Reunindo tudo isso,
Não daria uma Afrodite só!

Em 27 de Junho de 2006

Fuad Maron

Nenhum comentário: